quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

P38 - As nossas datas (5): Lembrando o nosso camarada José do Espírito Santo Barbosa, falecido no dia 14 de Dezembro de 1971

Hoje, dia 14 de Dezembro de 2011, faz 40 anos que faleceu no Hospital Militar n.º 241 de Bissau, vítima de ferimentos recebidos em combate no dia 6 de Dezembro de 1971, durante uma emboscada a uma coluna auto, o nosso camarada José do Espírito Santo Barbosa, Soldado Atirador, solteiro, natural da freguesia de Boaventura, concelho de S. Vicente, Madeira.

Desse dia lembramos que no P3 - FACTOS E FEITOS MAIS IMPORTANTES DA CART 2732 se pode ler:

Em 06DEZ71, pelas 11h15, 1 GCOMB (+) e 1 SEC MIL.ª 253 efectuou coluna auto a Mansoa a fim de transportar militares. No regresso, em MAMBONCÓ-3 F2 56 foi emboscado por grupo IN estimado em 50 elementos armados de RPG, granadas de mão, armas automáticas e morteiro 82, durante 20 minutos. O IN instalado a 2 metros da estrada atacou as viaturas com RPG e granadas de mão tendo vários elementos IN chegado ao alcatrão no intervalo das viaturas. As NT reagiram pelo fogo com todas as armas obrigando o IN a recuar. De Cutia, assim como de Mansabá e a FAP apoiaram as forças emboscadas. As NT sofreram 1 morto (Soldado Vieira), 11 feridos graves evacuados para o HM241 de Bissau, dos quais 2 morreram, 9 feridos também evacuados e 8 feridos ligeiros, 1 Unimog 404 e 1 Unimog 411 destruídos. Um dos feridos que acabaram por morrer no HM241 foi o Soldado José do Espírito Santo Barbosa.

O nosso camarada Barbosa foi louvado a Título Póstumo por S. Ex.ª o Brigadeiro Comandante Militar do CTIG.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

P37 - As nossas datas (4): Lembrando o nosso camarada Manuel Vieira, falecido no dia 6 de Dezembro de 1971

Hoje, dia 6 de Dezembro de 2011, faz 40 anos que faleceu em combate o nosso camarada Manuel Vieira, Soldado Atirador, solteiro, natural da freguesia de Arco da Calheta, concelho da Calheta, Madeira.

Desse dia lembramos que no P3 - FACTOS E FEITOS MAIS IMPORTANTES DA CART 2732 se pode ler:

Em 06DEZ71, pelas 11h15, 1 GCOMB (+) e 1 SEC MIL.ª 253 efectuou coluna auto a Mansoa a fim de transportar militares. No regresso, em MAMBONCÓ-3 F2 56 foi emboscado por grupo IN estimado em 50 elementos armados de RPG, granadas de mão, armas automáticas e morteiro 82, durante 20 minutos. O IN instalado a 2 metros da estrada atacou as viaturas com RPG e granadas de mão tendo vários elementos IN chegado ao alcatrão no intervalo das viaturas. As NT reagiram pelo fogo com todas as armas obrigando o IN a recuar. De Cutia, assim como de Mansabá e a FAP apoiaram as forças emboscadas. As NT sofreram 1 morto (Soldado Vieira), 11 feridos graves evacuados para o HM241 de Bissau, dos quais 2 morreram, 9 feridos também evacuados e 8 feridos ligeiros, 1 Unimog 404 e 1 Unimog 411 destruídos. Um dos feridos que acabaram por morrer no HM241 foi o Soldado José do Espírito Santo Barbosa.

O nosso camarada Manuel Vieira foi louvado a Título Póstumo por S. Ex.ª o Brigadeiro Comandante Militar do CTIG.

O estado em que ficou o Unimog da CART 2732, danificado na emboscada à coluna do dia 06DEZ71, durante a qual foi ferido mortalmente o nosso camarada Manuel Vieira

Nota: - Pede-se a quem tiver uma foto onde esteja o camarada Manuel Vieira por favor de a enviar para o Blogue para ser publicada neste Post

sábado, 12 de novembro de 2011

P36 - O grande ataque a Mansabá no dia 12 de Novembro de 1970

Por Inácio Silva

Inácio Silva com a sua Breda no abrigo da Mancarra

Durante os 23 meses de permanência em Mansabá, todos os dias, a qualquer hora, era possível verificar-se um confronto, repentino e inesperado, entre as forças do PAIGC e as nossas tropas, onde quer que elas estivessem: fosse numa operação militar programada, numa batida de zona, numa saída para o mato, à noite, numa coluna militar ou quando estivéssemos no quartel, acordados ou a dormir. Fosse, ainda, com a colocação de minas antipessoais ou anticarro, nos trilhos ou estradas por onde haveríamos de passar.

Estado em que ficou a Enfermaria.

Foram setecentos dias, dezasseis mil e oitocentas horas de permanente e absoluto alerta, com os olhos e ouvidos bem abertos, tentando perscrutar um movimento suspeito, um barulho, um estrondo, numa vasta área de mato, floresta e bolanha, em todo o perímetro do Quartel.
Diga-se, em abono da verdade, que a iniciativa dos ataques, partia, geralmente, dos homens do PAIGC, já que as tropas portuguesas estavam sediadas nos quartéis, cujas localizações eram suas, sobejamente, conhecidas, sendo, portanto, relativamente fácil localizá-las e desencadearem ataques às nossas guarnições.
A nós competia ocupar o território e defender as populações e as autoridades administrativas. Ao PAIGC competia marcar a sua presença em todo o território da Guiné, exercendo a guerrilha, lançando ofensivas, sem data nem hora marcadas, tentando causar baixas nas tropas portuguesas, com o objectivo de as desgastar e desmoralizar.

Num desses dias de 1970 (12 de Novembro), pelas 19H30, eu e alguns camaradas, após o jantar, já noite escura, temperatura amena, subimos, como habitualmente, para a cobertura do abrigo designado por Mancarra, para passar o tempo, o mais descontraidamente possível, até que o sono chegasse, estabelecendo, entre nós, diálogos aleatórios ao sabor de temas, ao acaso.

A minha maior preocupação eram os mosquitos que me rodeavam insistentemente, que se atiravam a mim como gato a bofe, não parando de me autoflagelar com palmadas para evitar que me picassem, a maior parte das vezes, em vão.
Sem conseguirmos ver nada que estivesse para além da periferia do quartel, a vinte metros de nós, cercada de arame farpado e iluminada pela energia produzida por um gerador, alimentado a gasóleo, cujo barulho era audível no local, de repente, a iluminação apagou-se. Tratava-se, sabíamos nós, de um procedimento habitual, pois era necessário fazer descansar aquele gerador e colocar outro em funcionamento.

Já não me lembro durante quantos segundos é que estivemos às escuras; penso que não terá ido além dos 30 ou 40 segundos. Nesse hiato decidi, sem nenhuma razão aparente, vociferar impropérios, na direcção do fosso negro, de nossos pés, até à mata.
O som das nossas vozes emitido, em absoluto silêncio nocturno, era perfeitamente audível a algumas centenas de metros. Fui acompanhado por outros camaradas, na mesma ladaínha: - Está na hora, seus filhos da p..., ataquem agora, aproveitem, seus cobardes.
Estas frases iam sendo repetidas, enquanto se vivia aquele momento de absoluta escuridão.

Alguns dos camaradas presentes nesta foto dormiam no abrigo da Mancarra, localizado nas suas costas. Inácio Silva sentado e encostado ao mini monumento que os defendeu dos estilhaços dos morteiros. A seta indica o sítio onde estavam quando começou o ataque.

Ainda estávamos naquele exercício provocatório, quando, inesperadamente, rompeu da escuridão, na nossa direcção, uma rajada de Kalashnikov (PPSH), conhecida por costureirinha pelo som característico, estridente que provocava, dando uma sensação de proximidade, seguida de lançamento de granadas de morteiro.
De imediato, saltámos da cobertura do abrigo, para o solo, tendo caído, nesse momento, três granadas de morteiro, perto de nós. A sorte esteve connosco, uma vez que as granadas caíram e rebentaram por detrás de um pequeno monumento, erigido pelos camaradas da Companhia que ali estivera antes de nós, a CCAÇ 2403, protegendo-nos.

Os círculos indicam os buracos feitos pelas três granadas de morteiro que marcaram o início do ataque.

Num ápice, o potencial de fogo por parte do PAIGC, originário de uma larga zona, em meia-lua, desde a pista de aviação, em terra batida, até ao abrigo da Mancarra, aumentou, atingindo várias zonas do quartel. Era possível ouvirem-se tiros de espingarda, de metralhadoras, e rebentamentos de granadas de morteiro, de RPG2 e de canhão sem recuo...
Percebi, logo, que estávamos em presença de uma grande operação militar do PAIGC que, das duas uma: ou respondíamos de imediato e com os todos os meios ao nosso alcance, ou poderíamos assistir a uma invasão das nossas instalações, com todas as consequências desastrosas que isso implicava.
Cada um dos camaradas que ali se encontravam, se dirigiu para o seu posto de combate e de defesa das instalações. Todos os postos avançados começaram a reagir àquele incessante matraquear mortífero: as nossas, espingardas G3, metralhadoras pesadas, metralhadoras ligeiras, morteiros 81mm e os obuses, em uníssono, desempenharam um papel absolutamente imprescindível na nossa defesa e foram, sem qualquer espécie de dúvida, a nossa salvação.

No referido abrigo da Mancarra, a meu cargo, estava uma metralhadora pesada BREDA, alimentada por lâminas de vinte balas de 8x59mm, mal posicionada em relação à frente de fogo inimiga. Havia que a deslocar para a posição correcta, sendo necessário dois militares para o efeito. Porém, o seu municiador, já há alguns dias que estava doente, acamado na enfermaria do quartel e eu encontrava-me, ali, sozinho.
Por segundos, fiquei sem saber o que fazer. A primeira reacção foi rodar a metralhadora, o máximo possível, para a frente de fogo inimiga, dando indicação aos atacantes de que a minha zona estava protegida.
Efectuei vários disparos, lâmina a lâmina, até que a BREDA encravou! Preocupado com a ausência de fogo naquele posto, recolhi todas as espingardas G3 dos camaradas que haviam saído para guarnecer os seus postos de combate e trouxe-as para junto de mim.
Tiro a tiro, fui descarregando as várias G3, mantendo, ali, uma presença de fogo. Ao dar o último tiro, fui confrontado com novo dilema: o que fazer a seguir? Abastecer os carregadores das G3 ou tentar desencravar a metralhadora e mudá-la para a frente de fogo? Qualquer destas tarefas implicaria numa paragem, absolutamente desastrosa, incompatível com a situação que estávamos a viver.
A tremer de medo, por pensar que poderia ser apanhado à mão, pelo inimigo, decidi desmontar a metralhadora. Ainda muito quente devido aos disparos a que foi sujeita, queimei as mãos ao desmontar a parte frontal, onde se encontra o cano e, esforcei-me, sem condições, por levá-la para a melhor frente de fogo. Colocada nova lâmina, lá recomeçou a funcionar. Depois, muitas outras se seguiram. Os meus dedos polegares, de empregado forense, já não conseguiam suportar as dores provocadas pelo trepidar dos disparos. Olhei para eles e vi que estavam duas enormes bolhas de sangue.

Continuei, apesar de tudo...

O meu posto era fixo e estava denunciado. De repente, oiço um assustador estrondo, acompanhado de uma labareda e de uma luz intensa, que me deixa absolutamente atordoado, surdo, a zumbir, parecendo que o couro cabeludo iria saltar. Fico sem reacção. Sinto uma impressão no meu sobreolho direito, passo a mão e o sangue anuncia um ligeiro ferimento. Nada de grave, felizmente. Era mais grave o meu estado de espírito e a minha desorientação devido ao gigantesco estrondo, amplificado pela caixa de ar onde me encontrava! Parecia encontrar-me numa gruta com milhões de morcegos a farfalhar.
Pensei! É agora que vou ser apanhado. Estava só e indefeso. Confiava nos meus camaradas que, algures, estavam a reagir estoicamente àquele gigantesco ataque. Não se ouviam vozes nem gritos, apenas os estrondos das bombas. Parecia ser o apocalipse!

Passaram-se quarenta e cinco longos minutos até voltar o silêncio! Havia que recompor as forças e o estado de espírito. Ver os estragos, abastecermo-nos de munições e preparar as armas para novo eventual tiroteio. Em teoria, ele poderia ocorrer noutra frente, no momento imediato!
Para acalmar, psicologicamente, as nossas tropas, o Comando Geral, enviou um bombardeiro T6, que sobrevoou, algumas vezes, as supostas zonas onde o IN se havia posicionado para atacar, certamente, já em debandada.

No dia seguinte, logo pela manhã, quis saber o que havia causado aquele estrondo que me tinha deixado prostrado. Foi uma granada de RPG, lançada pelos militares do PAIGC, na direcção das chamas da BREDA, que embateu na parede do abrigo, junto ao vértice inferior direito da fresta onde trabalhava a metralhadora, rebentando a cerca de um metro de mim.

É possível ver no círculo, o desbaste da parede efectuado pelo impacto e rebentamento da granada. Foi por um triz que ela não penetrou no abrigo.

Feito o balanço, verificou-se ter havido um morto e quatro feridos nas tropas portuguesas (milícias locais) e 14 mortos e 45 feridos, na população.
Quanto aos estragos materiais, é de referir a destruição da enfermaria, de uma caserna e de algumas casas da população.

No que a mim diz respeito, trago comigo, até hoje, uma deficiência auditiva provocada pelo referido rebentamento, revelada em todos os exames audiométricos que efectuei (mais de uma dezena), no âmbito da Medicina do Trabalho da minha empresa, caracterizada pela impossibilidade de discernir determinadas gamas de frequência, situação que é totalmente desconhecida das entidades militares, não fazendo, pois, parte das estatísticas.

Pergunta-se, agora, porquê tudo isto?

O ser humano é único: pensa, ama, odeia, ri, chora, raciocina mas, por vezes, lamentavelmente, reage irracionalmente... e a guerra é um acto irracional!

domingo, 6 de novembro de 2011

P35 - Como fui a Fátima a pé, comandando a CART 2732 (Cap Mil Jorge Picado)

Por Jorge Picado

Quinta-feira, 25MAR71
Tinha-me deslocado novamente a FARIM, para ver se convencia o “Chefão” a deixar-me seguir para TEIXEIRA PINTO, argumentando que o verdadeiro Comandante da CArt tinha entrado de férias e, portanto, podia muito bem ser substituído pelo subalterno mais graduado, como era habitual e tinha assim sucedido na “minha” anterior CCaç, tal como acontecia em todas as outras.
Voltou a dar-me “com os pés” e eu, como resposta, com a determinação de fazer cada vez o menos possível, ao mesmo tempo que contactei com o Comandante do CAOP, manifestando-lhe a apreensão que sentia por tal atraso em ocupar o lugar. Da minha parte havia pelo menos duas razões para tal apreensão:

a) dado o CAOP ser uma estrutura com um peso muito importante na manobra militar do GG e ComChefe, temia vir a perder o lugar, se entretanto não o ocupasse;
b) por outro lado, quanto mais tardasse a sair daquela situação, tanto mais riscos me sujeitava a correr.

Houve de facto contactos e isso mais deve ter acirrado o dito Major.
Deixei de ir para a estrada, permanecendo mais no quartel, mas, o “Fulano”, tratou de me meter em actividade.


ACÇÃO URTIGA NEGRA
Segunda-feira, 29MAR71
A vingança do Major executou-se, friamente.

Neste princípio de semana e talvez para me “castigar”, enviou-me para o mato, não para aquelas “tarefas” de segurança próxima aos trabalhos da estrada como até aí, mas para participar numa acção cujo nome de código não era nada agradável – URTIGA NEGRA – duas palavras com um certo significado “malévolo”.
Se não vejamos: “Urtiga” – nome de planta que possui como órgãos de defesa uns pêlos que injectam um liquido irritante na pele de quem lhes toca, provocando urticária – “negra” – palavra que se pode associar a algo nefasto – o que, convenhamos, não era nada animador associado ao objectivo da operação.

Mas esta palavra era consequência do Plano de Operações existente para as forças do sector a Sul do Rio Cacheu enquadradas no COP 6, que se chamava “FAIXA NEGRA”, dando depois lugar às Directivas Operacionais e às Ordens de Operações que teriam sempre de se chamar qualquer coisa “negra” e, as “urtigas”, foram várias (pelo menos em 24ABR71 executou-se a XXIX).

A CArt 2732, como era uma unidade de “quadrícula” e a ZA tinha sido reforçada com outros meios, tinha uma missão mais destinada à segurança da povoação e da estrada e, era menos utilizada para outras acções de maior envergadura. Estas eram destinadas às forças “de reforço” para estes fins – Páras e julgo que a CCaç do K3 – enquanto que as restantes – subunidade de Cavalaria e de Artilharia – tinham por missões respectivamente, fornecer protecção às colunas auto nos seus deslocamentos em estrada e, os obuses, naturalmente em posições fixas, apoiarem com fogo pesado sempre que solicitados. Isto em termos muito gerais.
Destinaram-me, pois, uma ida a FÁTIMA a pé, neste dia, como Comandante do Agrupamento (Agr) A.
Só por analogia digo isto, já que este vocábulo não tem nada a ver com o da povoação portuguesa. Este da Guiné e, numa região habitada por Fulas e Mandingas – povos islamizados – seria sem dúvida de origem muçulmana, já que este é o nome da filha de Maomé.

Nota: Na Carta (folha de Binta) existe assinalada uma “povoação de tipo indígena, dispersa, com 10 a 50 casas”, a cerca de 500 m a Oeste do itinerário OLOSSATO (povoação)-OLOSSATO (vértice geodésico secundário) no encontro da estrada MANSABÁ-FARIM.
Localização de Fátima na Carta de Binta, com a devida vénia ao Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.

Tendo por base as recordações que ainda guardo na memória, procurarei descrever aquela acção, tanto quanto possível mais conforme com o que se passou e que, como é evidente, não podia constar da descrição oficial. Há passos que gostava fossem melhor concretizados por ex-camaradas que nela participaram e que poderiam até corrigir deficiências minhas, mas há lembranças que permanecem quase intactas.
Conjuntamente com o Agrupamento A que comandava saiu uma força (Pel?) de Pára-quedistas – Agr? – comandada por um Tenente (?), efectuando-se o percurso apeado pelo mato, em conjunto, até ao ponto referenciado no relatório como “ponta da Bolanha de BERECODIM”. Uma vez aí, separámo-nos, prosseguindo na direcção Oeste pelo lado Norte da Bolanha, enquanto eles a contornariam pelo lado Sul, julgava eu, já que não tinha conhecimento das suas directivas.

Ao separarmo-nos nessa posição, olhando para o relógio terei dito ao Tenente algo como:
- Então até daqui a "n" minutos - isto porque, de acordo com o determinado na alínea “Transmissões”, da Ordem de Operações, era indicado o intervalo de tempo, em minutos, para o estabelecimento de contacto via rádio entre os 2 Agr, bem como entre estes e o PCA onde estaria o Cmdt do COP.
Só que o “nosso” Major, enquanto os “pedestres” tinham iniciado o percurso às 6H30, subiria para um DO – PCA – já com a manhã bem alta e, sobrevoando a zona, dirigiria “o circo” mais ou menos do seguinte modo – “ siga para ali… vire para aqui… agora em frente… marche… não recue…” –, lá de cima, bem folgado e resguardado da situação real de fogo que porventura acontecesse, enquanto os tais “pedestres”, já bem cansados a essa hora, teriam de desempenhar o difícil papel de “heróicos defensores da pátria”, mas duma pátria que não era seguramente a sua.

- Não é possível, meu Capitão, estou sem comunicações rádio - foi a resposta obtida para meu espanto.
- Como? - retorqui.
- Os rádios avariaram - voltou ele, com uma cara meio estranha.

Só passados mais uns segundos se fez luz no meu cérebro e, talvez com cara de parvo, por necessitar de duas respostas para momentaneamente voltar à realidade, lembro-me que, meio encabulado, tentei emendar a situação dizendo algo como:

- Este material deveria ser substituído, o nosso também não está em boas condições.

Desde logo havia aqui algumas lições a extrair desta situação.
Primeiro que tudo, a “nossa” guerra – da maioria dos Oficiais do QC e de já grande número de Oficiais do QP pelo menos até ao posto de Capitão – não era seguramente a mesma da do Major.
Pena que tivesse de aprender isso com um Oficial subalterno do QP e duma arma de elite, Pára-quedista.
Mas porquê um Oficial destes a dar-me tal lição?

Talvez por:
a) não tolerar ser enviado para Operações com um Comandante que o não acompanhasse no terreno, preferindo antes a comodidade dum PCA em que se encontrava livre de perigo. Como subalterno de tropas especiais, habituado a actuar em situações de elevado risco, com os “seus” comandos ao lado e não refugiados num meio aéreo, também não gostavam muito de ser “usados” como “caçadores de troféus”, para vanglória de quem não os merecia;
b) ou, sabe-se lá, estar já “tocado” por outros sentimentos…

Depois da operação fiquei sempre com a dúvida: “Será que ele prosseguiu ou mais à frente escolheu um bom lugar à sombra e aí ficou a fazer horas até ao regresso?”. A verdade é que, não tendo convivência com ele, pois mantinham-se aquartelados à parte, não se misturando com a chamada “tropa macaca”, nunca pude aflorar o assunto. Mas em matéria tão delicada, não creio que obtivesse uma resposta verdadeira.
Em segundo lugar, a minha reacção demonstrava o modo alheado como me deslocava naquelas circunstâncias... para não sofrer qualquer ataque de “histeria” e ficar amalucado. Só assim se admite que não tenha compreendido imediatamente o sentido da primeira resposta.
Afinal não tinha acabado de chegar da Metrópole! Já não era pira!
Estava há 14 meses no TO e já tinha visto muita coisa.
Verdade seja que aqui me “drogava” mais, bebendo muito mais uísque e possivelmente, como ia para uma operação donde poderiam ocorrer mais riscos, antes de sair talvez me tivesse precavido com uma boa dose, para ir mais afoito…
Também a desculpa que alvitrei sobre o material assentava num facto concreto. A realidade é que o material usado – e não era só o de transmissões, mas a generalidade – era obsoleto, pois na grande maioria era uma herança ainda da II Guerra Mundial e estava constantemente a “dar barraca”, como se dizia.
O que é certo é que, naquela operação, a partir daquele momento dei ordens ao operador – seria soldado ou cabo (?) – das Transmissões, que carregava o rádio às costas e me precedia na coluna, para manter só a recepção…
Pouco tempo antes do contacto com o IN, começou a ouvir-se o barulho do avião sobrevoando a área, de certeza a uma altitude bem confortável para melhor garantia de segurança e, pouco depois, a tentativa de estabelecimento de contacto via rádio do PCA com qualquer das forças. Bem se esforçava porém o Cmdt com os seus apelos, mas as respostas eram… nenhumas.
Isto também era possível, felizmente, dadas as condições do terreno em que nos deslocávamos. Tratava-se de floresta povoada por espécies arbóreas de grande porte e mato de espécies sub-arbóreas muito denso, formando um coberto cerrado que, nem nos deixava ver o céu, nem permitia a quem de cima nos sobrevoava, ver-nos.
Sempre à escuta, ia aguardando por qualquer resposta dos Páras, mas como deles, “nem novas, nem achados”, quem era eu?
Afinal, dos dois Agr, quem eram os melhores preparados para a guerra? Não eram os Páras? Se tinham desaparecido… seria justo que fossemos nós a arcar com todas as consequências?... e pouco depois as circunstâncias quase me obrigavam a isso, já que as rajadas de G3 surgiram quase inesperadamente.
A situação não se desenrolou tão sucinta e friamente como se descreve no relatório, pois que, à medida que caminhávamos para Oeste, mais vigilantes e cautelosos nos íamos tornando, principalmente depois de atravessar o tal “trilho largo e muito batido”.
Era talvez uma faixa – e não um trilho – de 4 a 5m de largo, sem arvoredo cerrado e falho de mato, não verdadeiramente a céu aberto, mas donde se vislumbravam nesgas dum céu bem azulado àquela hora do dia e com a terra toda calcorreada, cheia de pegadas, a maior parte antigas, mas possivelmente algumas recentes.
Estendia-se no sentido Norte-Sul e foi atravessado com prudência, de acordo com os procedimentos militares para estes casos como às vezes se vê nos filmes de guerra…
Do lado oposto ao da nossa procedência é que se detectaram pegadas indicativas de passagem de pessoas, que obrigaram ao reconhecimento e a abandonar a chamada “fila de pirilau”. Preparámo-nos para evitar ser surpreendidos por qualquer emboscada.
Com o GComb da frente comandado pelo Alf Casal seguia uma secção de Milícias que creio terem sido eles quem primeiro disparou, quando menos se esperava.
Passados segundos (?)… minutos (?)… como não houve reacção procurei, sempre rastejando ou de “gatas”, chegar-me mais à frente à fala com o Alf, sempre com o soldado-rádio atrelado.
Uns metros à frente, junto a umas palmeiras com ralos arbustos, vi de relance umas esteiras, dois corpos escuros estendidos, uns soldados e milícias – nem sei quantos – a recolher objectos e a pesquisar o mato para além das palmeiras. Tudo aquilo foi muito rápido e, quando voltaram, disseram que os vultos estavam mortos e havia quem tivesse fugido para Oeste, mas não sabiam precisar quantos.
Mandei então prosseguir na sempre na direcção Oeste e, pouco depois, entrámos na zona de alcance dos seus morteiros 82.
Reconhecemo-la logo, pois o solo estava estranhamente remexido, como se tivessem andado com uma enxada a abrir covachos para plantar qualquer coisa e não foi preciso andar muito, para que ouvíssemos o tão característico som abafado duma primeira saída de granada de morteiro, a que logo se seguiram as restantes.
Toca a sair dali, inflectindo na direcção Norte ou seria Este/Nordeste (?), para debaixo de mato cerrado novamente e, não com “os calcanhares a bater no cu”, mas em passo acelerado, só parando quando aquela música, das saídas e subsequentes rebentamentos das granadas ficaram bem para trás.
Neste ponto é que deve ter acontecido perder-se o “chamado norte”, isto é, ao entrar-se novamente debaixo de floresta cerrada e em andamento acelerado o rumo podia não ser bem o que suponhamos, até porque nem se usava qualquer instrumento de orientação, já que estávamos apenas dependentes da orientação definida pelos tais guias, por isso escrevi atrás “direcção Norte ou seria Este/Nordeste”, mas a partir daqui, continuar a seguir na direcção de Fátima, já não fazia sentido.
Qualquer efeito de surpresa tinha desaparecido.
O IN já estava no terreno preparando “recepção adequada” e entretanto aquela dúvida “mas por onde andam os Pára-quedistas?”, sempre a martelar-me a cabeça.
Entretanto com este “fogachal” todo, o PCA tentava entrar em contacto, mas como não havia problemas nas NT, mantivemos o silêncio rádio.
Após um pequeno alto, para recuperar forças e acalmar o nervoso miudinho, prosseguiu-se o patrulhamento e foi ao passar por uma “ilhota” de palhotas, já destruídas anteriormente pelo fogo, como os restos carbonizados demonstravam – destruição provocada pelo IN ou pelas NT (?) – que ainda encontrámos o milho-miúdo armazenado a quem deitámos fogo.
A emboscada foi montada depois de mais de hora e meia a palmilhar.

Durante esse intervalo, comentando com os alferes os acontecimentos, inclinámo-nos para a hipótese de que não seria grupo IN em movimento, mas simplesmente elementos do “tipo das milícias”, muito usados pelo IN como sentinelas ou guardas avançados dos seus locais de acantonamento que estivessem de serviço. Se assim não fosse, não tinham permitido que apanhássemos a espingarda e as granadas, nem nos tinham deixado prosseguir sem tentarem surpreender-nos, tanto mais que conheciam muito melhor o terreno e onde se movimentavam com maior à vontade. Quem escapou, 1… 2… 3(?) elementos, dissimularam-se, comunicaram, não sei como com a base onde existiam os Mort 82 (que mais tarde o Bravo Vítor Junqueira silenciou) procurando não se deixar apanhar, para mais tarde recolher os corpos que ficaram no terreno.
Quando chegámos à estrada para sermos recolhidos, então comecei a descomprimir e a pensar sobre o que me podia ter acontecido.
Até aí, vinha meio “entorpecido”: pelo nervoso; pelo cansaço; pelo medo de ser apanhado ou deixar apanhar o pessoal numa situação de maior gravidade, correndo riscos que ninguém valorizava e duma coisa tinha a certeza. Íamos sendo apanhados pelos seus Mort 82.
No quartel, depois dum banho de chuveiro retemperador, pensei ironicamente, sem nunca o ter revelado, nas partidas que o destino nos reserva.
Tinha sido necessário ir parar à Guiné, para quase, sem dar por isso, “ir a FÁTIMA a pé”!

Nota. Ao procurar reconstituir nas folhas, de Binta e Farim da Carta Militar entretanto conseguidas, o trajecto da operação face às coordenadas indicadas no relatório, deparo com um obstáculo. As coordenadas indicadas no relatório ou não batem certo ou já não sei trabalhar com a grelha.
Ainda que com bastantes dúvidas, posso tentar delinear um certo percurso mais ou menos virtual.

Assim, o ponto de início (PI) na estrada situar-se-ia entre 1 a 2km a Norte do vértice geodésico Bironque e a pontada bolanha está bem identificada.

Na carta estão indicados vários “caminhos indígenas” saindo de SOLINTO. É evidente que naquela época todas as povoações como essa, BERECODIM e BERECOBÁ, estavam desabitadas e estes “caminhos” estariam com certeza recobertos de mato, mas é provável que o “trilho largo” e o “carreiro” do relatório se situassem entre o 1.º e o 2.º “caminho” desta carta (onde coloquei ??) e, o contacto deu-se numa zona de floresta e palmeiras depois disso.
O trajecto seguinte é que fica um pouco mais confuso, pois ainda avançámos após o contacto, entrando na zona de alcance dos Mort 82 e, só então, derivámos seguindo um rumo que, como descrevi pode estar “baralhado” e não ser o que julgava para Norte, mas sim mais Este/Nordeste, passando por uma “ilhota” de palhotas destruídas pelo fogo que podia ser a tal antiga “povoação de tipo indígena, cerrada”, denominada SOLINTO e onde encontrámos o milho miúdo que destruímos.
A quarta posição, onde se montou a emboscada, seria provavelmente num dos “caminhos indígenas” a Norte de BERECOBÁ, já que o ponto de recolha na estrada se aproximaria do ponto de partida.
Posteriormente, ao ultimar este relato, quando cheguei a esta parte – meados de FEV06 – procurei obter informações que me esclarecessem este tipo de identificação então usado, mas até ao momento – ABR06 – não consegui.

Apenas uns esclarecimentos sobre o "Comentário ao Relatório da Acção":
Quanto ao indicado no ponto 02 pelo "meu amigo" Comandante do COP 6 que foi escrito e assinado em 30ABR71, quando eu já me encontrava em Bissau, pois deixei a CART 2732 no dia anterior, dia 29 pelas 11H10m, possivelmente numa coluna via Mansoa e, de que só tive conhecimento no dia em que consultei os processos no AHM em Junho ou Julho de 2009, fiquei perplexo.
De facto, saber agora que revelei "espírito de decisão e iniciativa" até me faz "babar" de felicidade por ver reconhecido o meu "valor militar". E eu que me julgava "um falhado para tais artes". Se tivesse tido conhecimento disto naquela época, ainda era capaz de reconsiderar e pedir mais acções.
Ou seria que o "meu amigo" Comandante me quiz apenas recompensar, por não me ter deixado seguir para o CAOP 1 logo que recebi a colocação naquele Agrupamento? Com toda a certeza teve um rebate de consciência e resolveu compensar-me desta maneira.
E isto até chegou à REP OPER do COMCHEFE!!!
Jorge Picado

RELATÓRIO DA ACÇÃO "URTIGA NEGRA"





Jorge Picado
Ex-Cap Mil
Ex-CMDT da CART 2732

(Clicar nas imagens para ampliar e facilitar a leitura)

sábado, 1 de outubro de 2011

P34 - Como cheguei a Comandante da CART 2732 (Ex-Cap Mil Jorge Picado)

Com a devida vénia ao Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, publicamos parte de um texto e algumas fotos que o nosso ex-Comandante, Cap Mil Jorge Picado, enviou para aquele Blogue para publicação.


Como cheguei a Comandante da CART 2732

Por Jorge Picado

Sendo um individualista naquela guerra, uma vez terminada a Comissão do BCAÇ 2885 e, por conseguinte ter deixado o comando da CCAÇ 2589, esta sim a minha CCAÇ (ainda que tivesse ficado com a dúvida se os seus nativos me adoptaram ou não) em que permaneci durante 356 dias (24FEV70-15FEV71), apresentei-me no QG em Bissau com uma virtual corda ao pescoço a aguardar o enforcamento.
Ingénuo como sempre, sem conhecimentos pessoais naqueles corredores, quer do QG do CTIG quer do COMCHEFE, mas também sempre avesso a situações de favor (leia-se cunhas), nem o facto de ter encontrado no Clube de Oficiais um Major do Estado Maior mais velho, mas que reconheci por ter feito os estudos secundários no velho Liceu José Estêvão de Aveiro e creio que natural de Albergaria-a-Velha, colocado não sei em qual das Repartições desse QG, nem a ele resolvi recorrer para qualquer arranjinho na minha colocação. Aguardava serenamente que se apiedassem de mim por já ter experimentado um ano de mato e me concedessem o resto da comissão como férias em Bissau.
Mas durante esse período acabei por perder a ingenuidade e expurgar-me das razões éticas ou moralistas sobre as ditas situações de favor. Não tinha aprendido nada com a mobilização de 2 camaradas (do CPC e do ISA) que foram colocados em Bissau, que sempre me deixaram na dúvida, mas com o que ocorreu a seguir, aprendi.
Não tenho qualquer pejo de fazer estas afirmações, porque era o que sentia. O destino obrigou-me a vaguear por aquelas paragens contra a minha vontade. Obrigou-me a desempenhar papéis para os quais nunca senti o mínimo de preparação e muito menos vocação.
Apenas para que possam avaliar estas minhas confidencias acrescento esta nota muito particular. O meu saudoso sogro gastou dois anos a tentar fazer de mim caçador (arte lúdica de que ele tanto gostava, fornecendo-me todo o material em troca apenas da minha companhia nessas andanças) e teve de desistir antes de há terceira aselhice ficar com a filha viúva, mas que ironia, o Governo de então fez-me não só caçador, mas mais… comandante duma Companhia de Caçadores! E esta, hem? Como diria o falecido e conhecido Fernando Peça.

Quem tem amigos assim, não precisa de inimigos
Mas voltemos a Bissau.
Fiquei aboletado, não sei se era este o termo usado, num quarto (daqueles destinados aos oficiais em trânsito, como aliás tinha acontecido quando da minha chegada ao TO) das instalações do Clube de Oficiais.
Nesse mesmo quarto onde pernoitava, por infelicidade… ou talvez não, instalou-se igualmente pouco tempo depois o Capitão X (não me fica bem mencionar o seu nome, ainda que seja daqueles que até hoje nunca esqueci), do Quadro Permanente e Comandante da CART 2732. Como já éramos conhecidos em virtude da actividade do meu período anterior (fundamentalmente desde Novembro de 1970 com a protecção das colunas para Mansabá), naturalmente se estabeleceu o diálogo entre ambos.
Tinha vindo, não para tratar de assuntos da sua unidade, mas para consultas ao HM 241, no intuito, como honestamente me confessou, de tratar da sua saúde.
Assim, pela sua conversa e pelos cantos do Clube lá fui sabendo que havia vagas e até mesmo fora da capital mas num lugar calmo, como naquela época era o CAOP 1 em Teixeira Pinto onde faltava pelo menos 1 Capitão, admitindo eu não ser descabido mais uma vez sonhar com a fuga aos lugares de sofrimento. E o meu camarada de quarto ia-me animando.
Depois de regressarmos das nossas tarefas diárias matutinas, ele da sua deslocação ao Hospital Militar e eu da minha visita ao QG para receber novas sobre o futuro ou acompanhando o Alferes que me tinha substituído na Comissão Liquidatária (CL) da CCAÇ para o ajudar sempre que preciso (a esta distância ainda me causa uma certa indignação a forma como o Exército tratava os individualistas como eu.
Deixei de pertencer à CCAÇ no cruzamento da estrada Mansoa-Nhacra para o Cumuré, onde todo o BCAÇ se instalou até ao embarque, enquanto eu fui directamente para o QG, mas a responsabilidade até ao encerramento da CL continuava a ser minha, como já em Mansabá acabei por constatar!!! Foi outra guerra que tive de travar quase até ao fim da Comissão), era habitual encontrarmo-nos no quarto para uma banhoca antes do almoço e invariavelmente questionava-me:

- Então já tem colocação?
- Não. - Ia sendo a minha resposta.
- E o seu caso? - Indagava eu.
- Vai correndo bem…

A certa altura anunciou-me que para já… seria uma licença para tratamento… não regressando por enquanto ao seu posto…
Enfim, os dias iam correndo, mas como atrás referi esta minha Companhia tinha-me finalmente aberto os olhos, à cautela, e depois de saber quem comandava o CAOP 1 e que se encontrava de férias na Metrópole, abordei o assunto num telefonema para casa. Havia uma possibilidade, desde que um certo intermediário quisesse, de obter aquele lugar em Teixeira Pinto e dessa vez deitei fora todos os escrúpulos do recurso às cunhas.
Afinal não passava dum mero miliciano e sem vocação para tais artes militares e o exemplo do meu camarada de caserna liquidou a minha moralidade.

O Cap Domingos fica a conhecer o seu subtituto
O pior foi no dia 5 de Março, uma má sexta-feira, quando no QG me informaram que tinha sido colocado no DA, além do QO, indo em diligência para a CART 2732 substituir, durante o seu impedimento o respectivo Comandante.
Iam-me caindo os ditos cujos aos pés ao receber logo a respectiva Ordem de Marcha que me meteram nas mãos, para que não houvesse dúvidas.
E eu, que naquela altura já tinha recebido um feed back positivo de que a lança tinha sido metida e a resposta era favorável a uma ida para o CAOP 1, como depois se confirmou. Nem calculam o que mentalmente lhe chamei...
Ao chegar ao quarto e perante a cena do costume, quase sem o encarar só lhe respondi:

- Fui colocado na CART 2732. Sigo amanhã para Mansoa.

Fez-se silêncio. Nem sequer um pedido de desculpa ouvi. Saiu imediatamente como um foguete.
Desapareceu, nunca mais o vi, porque nessa noite não foi dormir ao quarto...
E assim fui comandar durante uns dias a CART 2732.

Junto algumas fotos dessa estadia.

Um abraço
Jorge Picado


Mansabá, 11 de Abril de 1971 - O nosso Capitão Jorge Picado festejou um dos seus aniversários em Mansabá. Nesta foto, da CART 2732, de pé: Alf Mil Bento, Cap Jorge Picado e Alf Mil Rodrigues; à esquerda, sentado no chão, Alf Mil Manuel Casal.

Mansabá, 13 de Abril de 1971 - Dia do batizado da filhota do senhor José Leal. O Cap Jorge Picado à direita da foto

Mansabá, 13 de Abril de 1971 - Dia do batisado da filhota do senhor José Leal. Jorge Picado segura a miúda juntamente com o pai.

Mansabá - Messe de Oficiais no tempo do Cap Mil Jorge Picado, na foto, de pé, ao centro.

(Fotos: Jorge Picado. Legendas: Carlos Vinhal)

Nota de CV:
O Cap Mil Jorge Picado comandou a CART 2732 entre o dia 8 de Março e o dia 29 de Abril de 1971

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

P33 - Álbum fotográfico de Ernestino Caniço, ex-Alf Mil, CMDT do Pel Rec Daimler 2208 (Mansoa e Mansabá, 1970-1971)



Com a devida vénia ao nosso camarada Ernestino Caniço, ex-Alf Mil, CMDT do Pel Rec Daimler 2208, hoje médico com inúmeras actividades, publicamos estas fotos que documentam a presença da sua Unidade em Mansabá, que esteve adstrita à nossa CART 2732.

PEL REC DAIMLER 2208

Com os “rapazes” do meu Pelotão em Mansabá

Mansabá - Ex-Alf Mil Amaral, ex-Cap. Carreto Maia, ex-Alf Mil Rodrigues, ex-Alf Mil Casquinha e eu próprio.

Mansabá - Com os ex-Alf Milicianos Tavares, Casquinha e Amaral

De Oficial de Dia em Mansabá

Mansabá - Ex-Alferes; (não me recordo o nome), Caria, Casquinha, Amaral e Rodrigues

Com o ex-Alf Mil Rodrigues (CMDT do Pel Caç Nat 57) no Bironque

Mansabá - A alegria dos garotos

Flagelação a Mansabá em 1970MAR19 (?)

Dia de mercado no Quartel de Mansabá

Mansabá - Junto ao Obus 10,5

Mansabá - Num heli para a posteridade

Mansabá - Em traje muçulmano com o ex-Alf Mil Tavares

Junto à Messe de Oficiais de Mansabá

quinta-feira, 21 de julho de 2011

P32 - Os fatídicos dias 5 e 6 de Outubro de 1970 e a morte do Alf Mil José Armando Couto

Após o recente contacto da neta do nosso camarada Alferes Couto, lembrei-me de reproduzir aqui parte de um texto que publiquei no Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné em 18 de Julho de 2006.


Os fatídicos dias 5 e 6 de Outubro de 1970

O Aquartelamento de Mansabá tinha sido atacado na noite de 5 de Outubro. Deste ataque resultou a morte imediata de um soldado milícia e ferimentos ligeiros em alguns militares da nossa CART.

Na manhã seguinte havia que fazer o reconhecimento da zona envolvente, pois o IN esteve muito próximo e normalmente deixava pistas que, de alguma forma, serviam para recolher ensinamentos para futuros ataques. Além de tudo, por vezes, antes de retirar, o IN deixava armadilhas nos itinerários utilizados por nós e pela população.

No dia 6 estava de Piquete o 4.º pelotão, cujo Comandante era o Alferes Couto que tinha, como eu, o curso de Minas e Armadilhas. Do mesmo pelotão fazia ainda parte o Furriel Sousa, também com o curso de minas.

Por motivos óbvios toda a malta se tinha deitado muito tarde e descansado pouco, mas manhã cedo lá saiu o 4.º pelotão para o mato, reforçado com meu, o 3.º, para proceder ao dito reconhecimento.

Decorrido algum tempo após a saída dos pelotões, ouviu-se no aquartelamento um estrondo e quase de seguida, pelo rádio, ouviram-se pedidos de socorro para evacuar um morto e um ferido, vítimas do rebentamento de uma mina antipessoal num carreiro no designado Alto de Bissorã. Saíram imediatamente algumas viaturas para trazerem os sinistrados.

Quando regressaram, traziam o cadáver do Alferes Couto. O ferido era o Alferes Bento, comandante do meu pelotão, que também tinha sido atingido ao tentar socorrer o seu camarada e amigo.

O Alferes Couto era um homem com cerca de trinta anos que tinha sido incorporado com aquela idade quando era tripulante dum navio da Marinha Mercante. Não sabemos a razão de tão tardia ida para a tropa, nem vem ao caso. Sabíamos sim que ele era casado e era já pai. Muito comunicativo, pouco adaptado aos cerimoniais militares, privilegiava o convívio dos soldados do seu pelotão. Lembro-me de, durante o Curso de Minas e Armadilhas na EPE, Casal do Pote, ele passar horas a jogar matraquilhos connosco no Bar dos Praças daquela Unidade. Era um homem simples e superior ao seu estatuto de oficial.

Como operacional na Guiné, julgo que o Alf Couto já tinha neutralizado e/ou levantado algumas minas antipessoais até que chegou o fatídico dia 6 de Outubro de 1970.

As minas PMD6 utilizadas na Guiné eram traiçoeiras e por vezes difíceis de manusear. Algumas com a humidade do solo, porque eram de madeira deterioravam-se, pelo que retirar a espoleta era uma autêntica lotaria. Não se sabe exactamente o que ele pretendia fazer, só se sabe que a determinada altura chamou o Alferes Bento para lhe dar ajuda. Quando este se dirigia para ele, deu-se a explosão que ainda o atingiu.

Eu, que na altura não era operacional por estar impedido na secretaria onde colaborava, no momento em que tudo aconteceu pude acompanhar junto do rádio o desenrolar dos acontecimentos.

Depois de removido o cadáver do Alf Couto e de o Alf Bento ter recolhido à enfermaria para posteriormente ser transferido para o HM 241 [Hospital Militar de Bissau], havia que voltar ao local do incidente para continuar a neutralizar as outras minas detectadas.

Recebi então ordem do Comandante da Companhia para avançar e dar continuidade ao trabalho que ficou por acabar. Chegado ao local fatídico, estavam assinaladas duas minas antipessoais guardadas por alguns militares completamente consternados. Ao verem-me, desejaram-me as maiores felicidades.

Assim, comecei por juntar às minas detectadas uns pedaços de TNT, que iriam ser accionados por detonadores pirotécnicos alimentados por cordão lento, porque na altura ainda não dispunha de disparador eléctrico. Claro que isto exigiu que eu andasse por ali às voltas. Examinei tanto quanto pude o terreno por onde iria correr enquanto o cordão ardesse e um local para me proteger quando aquilo tudo explodisse. Pus o pessoal em bom recato, peguei fogo ao rastilho, corri e abriguei-me, esperando pela detonação. Quando esta aconteceu, fui ao local ver o resultado e reparei que, em vez de duas crateras correspondentes às duas minas detectadas, tinha três. Na realidade não havia duas, mas sim três minas, sendo que a terceira não tinha sido detectada e eu não a pisei por mero acaso e sorte. Esta rebentou com as outras por simpatia.
Missão cumprida e retorno ao quartel onde o constrangimento era geral. Ainda estava fresco o cadáver dum camarada, que não veria crescer os filhos deixados em casa aos cuidados da mãe, há apenas seis meses. Tinha acontecido a nossa primeira baixa.

A partir desta data fiquei com a responsabilidade das actividades relacionadas com as Minas na Companhia, porque o alferes substituto do camarada Couto não tinha o Curso de Minas e Armadilhas. Fiz algumas patrulhas em que o meu Pelotão não tomava parte, porque desde que o 1.º ou o 2.º Pelotões fossem passar em zonas minadas ou armadilhadas por nós, era exigida a minha presença ou a do Sousa, meu camarada especialista em Minas e Armadilhas que integrava o 4.º Pelotão.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

P31 - Tivemos notícias da família do nosso malogrado camarada Alf Mil José Armando Couto

1. No passado dia 14 de Julho recebemos esta mensagem da jovem Custódia Couto:

Boa Noite,
O meu nome é Custódia Couto, tenho 26 anos e sou neta do José Armando Santos do Couto.
Como devem calcular, nunca tive oportunidade de conhecer o meu Avô, tal como ele também não teve a possibilidade de conseguir conhecer a última filha dele, que só a viu por fotografia.


Em tempos, eu fiz um trabalho para a escola acerca do meu Avô que me valeu uma óptima nota. Hoje por um devaneio de pesquisas, decidi pôr o nome dele no Google a ver se existiam mais documentos acerca dele na altura em que faleceu e por acaso dei com o vosso blog que me deixou muito emocionada e Feliz.

Posso tentar arranjar-vos uma fotografia do meu Avô para que vocês consigam completar a informação que colocaram dele no blog. Como neta e orgulhosa tanto do meu Avô como da minha Avó, terei muito gosto em vos ajudar.

Para a minha Avó que ainda é viva, saber de uma coisa destas é deixá-la muito Feliz pois sempre teve o meu Avó Zé como um exemplo.
Da união tiveram 4 filhos, a minha Mãe (que infelizmente faleceu este ano vitima de AVC com 47 anos) mais os meus 3 tios, a última fez este ano 41 anos, o mesmo tempo que tem o meu avô de falecimento (comprova-vos que não estou a mentir acerca do parentesco).

Aguardo noticias da vossa parte.

Com os melhores cumprimentos me despeço,
Custódia Couto.


2. Enviei esta mensagem resposta à nossa amiga Custódia:

Cara amiguinha Custódia
Que prazer enorme saber notícias da família do meu camarada Alferes Couto.
Ainda bem que nos escreveu porque não há uma foto do seu avô nos nossos arquivos. Tudo o que tiver dele mande-nos digitalizado para publicarmos no nosso Blogue. Eu sou editor de outro blogue de ex-combatentes da Guiné onde terei o maior prazer de lembrar a memória de seu avô, uma pessoa excepcional, sem o mínimo de jeito para as burocracias militares. Dava-se com toda a gente e não distinguia um soldado de um oficial.

Fizemos os dois a Especialidade na Escola Prática de Artilharia de Vendas Novas, ele como oficial e eu como sargento. Quis o acaso que fôssemos os dois para o Curso de Minas e Armadilhas na Escola Prática de Engenharia em Tancos e fomos ambos para a Madeira dar instrução e mais tarde irmos na mesma Companhia para a Guiné. Ele era o Comandante do 4.º Pelotão e eu um dos Furriéis do 3.º
O destino foi cruel para ele porque o vitimou com uma mina, e eu que o substituí nas suas funções após a sua morte, nunca esqueci o que lhe aconteceu e tive sempre o máximo cuidado.
Apesar de tudo, por duas vezes, uma das quais momentos depois de ele falecer, me ia acontecendo também um percalço.
Para já fico por aqui, pois não sei até que ponto a avó conseguiu ultrapassar a morte do marido.

Não me lembrava do número de filhos que tinham, pensava serem só dois. A sua mãe faleceu muito nova infelizmente, o que somado ao passado deve ter deixado marcas profundas na sua avó. Se bem me lembro ela era funcionária dos Correios. Ou estou a inventar? Já lá vão muitos anos, mas a imagem do Alferes Couto está bem nítida na minha memória.
[...]
Espero as fotos do avô e as suas próximas impressões.
Desculpe não ter respondido mais cedo.
Muito obrigado pelo seu contacto.

Receba um beijinho deste velho(te) companheiro de seu avô.
À senhora sua avó diga que o marido era querido pelos seus militares e que todos sentimos a sua ausência. Não são palavras de circunstância porque a esta distância dos acontecimentos, não têm razão de o ser.

Carlos Vinhal
Ex-Fur Mil da CART 2732
Guiné 1970/72


3. E obtive esta resposta:

Caro Carlos,
Fiquei muito contente de receber noticias suas pois pensei que não tinham recebido o meu e-mail.
É com muito orgulho que vou tentar fornecer tudo o que exista de fotografias para vos poder enviar do meu Avô.


Eu não tive oportunidade de o conhecer em pessoa, mas a minha Avó sempre fez muita questão de nos fazer respeitar todos os valores que o meu Avô um dia deixou na casa dele em Queluz, onde fui criada com muita educação.

A minha Avó, neste momento, encontra-se num misto de emoções, entre a tristeza e a alegria... a perda e o reencontro! Está fraca pela minha Mãe, mas quando lhe disse que o Marido até já tinha sido homenageado após os 40 anos da sua morte, vi-lhe um belo sorriso nos lábios que me deixou ainda mais orgulhosa. Porque se alguém tinha Orgulho do meu Avô Zé, esse alguém sempre foi a minha Avó Zé (Zé também por ser nome de baptismo dela.).

Tenho todo o gosto em tentar enviar-lhe o melhor e por isso vou tentar ser o mais breve possível.

Muito Obrigada pela sua resposta e Muito Obrigada por ter tido o prazer de estar com o meu Avô.

Com todo o respeito me despeço, um beijinho e um abraço,
Custódia Couto.


4. Entretanto recebemos esta mensagem sugestiva do nosso camarada Juvenal Pereira

Razão tem quem diz que a vida, afinal, nunca acaba. É extraordinário o facto de passarem 40 anos sobre a sua morte e alguém - concretamente a sua neta - "ressuscitar" o seu avô, o nosso querido e saudoso Alferes Couto, cujas virtudes não vale a pena aqui pormenorizar, pois o meu amigo Carlos Vinhal já o relatou à neta Custódia com toda a clareza e veracidade.
Se levarmos por diante a iniciativa de para o ano (2012) comemorarmos na Madeira o 40º aniversário do regresso da Companhia 2732, com a presença do maior numero de militares de então (madeirenses e continentais e respectivas famílias) a exemplo do que foi feito o ano passado comemorando a data da partida, muito gostaríamos de contar com a presença da esposa, desta neta ou mais familiares, aqui no Funchal, para que, infelizmente a titulo póstumo, pudéssemos prestar uma singela, mas sincera homenagem, ao homem e militar que foi o Alferes Couto.
Se o meu amigo puder fazer chegar este "convite-sugestão" à "nossa amiguinha" Custódia Couto seria muito bom... se bem que o momento seja particularmente difícil para esta jovem que acaba de perder a mãe prematuramente, a cuja dor me associo, endereçando os meus mais profundos sentimentos de pesar.

Um abraço.
Juvenal Pereira

terça-feira, 17 de maio de 2011

P30 - As nossas datas (3): Lembrando o nosso camarada José Silvestre Nunes Vieira, falecido no dia 17 de Maio de 1971 por motivo de acidente

Hoje, dia 17 de Maio de 2011, faz 40 anos que faleceu, por motivo de acidente, no Hospital Militar n.º 241 de Bissau, o nosso camarada José Silvestre Nunes Vieira, Soldado Atirador, casado, natural da freguesia de Água de Pena, concelho de Machico, Madeira.
Este camarada que estava impedido na Messe de Oficiais, sofreu um acidente quando se deslocava para um dos postos de vigia do aquartelamento de Mansabá para cumprir o seu período de serviço.

De salientar que este camarada, que estava emigrado na Venezuela, compareceu voluntariamente no Funchal para cumprir o serviço militar obrigatório, tendo sido mobilizado para a Guiné, em cumprimento de uma comissão de serviço integrado na CART 2732.

Honremos a sua memória.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

P29 - As nossas datas (2): Lembrando o nosso camarada Artur Malcata de Matos, falecido no dia 16 de Maio de 1971 por motivo de doença

Hoje, dia 16 de Maio de 2011, faz 40 anos que faleceu no Hospital Militar n.º 241 de Bissau, por motivo de doença, o nosso camarada Artur Malcata de Matos, solteiro, natural da freguesia do Socorro, Lisboa.
Este camarada, que era Soldado Atirador, tinha substituído em Fevereiro do mesmo ano, na CART 2732, o Soldado Atirador José de Sousa Jardim, transferido da Companhia por motivos disciplinares.

Mais um camarada que jamais esqueceremos.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

P28 - Venham todos venham cá ver / o quanto custa viver / nesta terra que é Mansabá


Em comentário feito no Poste 7767 publicado no Blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné, o nosso camarada Rogério Cardoso (ex-Fur Mil da CART 643/BART 645 que esteve em Bissorã nos anos de 1964/66), revelou a letra de uma canção dedicada às condições então vividas em Mansabá.

Caro amigo Ernesto
[...]
A respeito de Mansabá, um camarada nosso adaptou um poema à musica LA MAMMA, cantada na altura por Charles Aznavour. A sede do Batalhão estava em Mansoa e quando porventura por lá "poisava", a malta era sempre tramada.

Um abraço
Rogério Cardoso
CART 643 - "Aguias Negras"



Venham todos venham cá ver
o quanto custa aqui viver
nesta terra que é Mansabá


Uma vida de comoções
constantemente em operações
sem termos acomodações
como te adoro! Oh Mansabá

Sós na caserna sem ninguém
com um cinema de ano a ano
cheios de saudade de alguém
Oh Mansabá da minha alma

Quando queremos o correio
nunca aparece um avião
mas surgem logo três ou quatro
para fazer uma operação

E quando alguém para descansar
vai a Mansoa, só por isso
dizem-lhe logo ao chegar
que amanhã entras de serviço

Oh! Mansabá e Bissorã
o teu descanso não tem igual
faz reviver os corações
e para preocupações,
preferimos as operações
mas jamais, jamais, jamais
sede de batalhões!!!!
__________

Vd. também o Poste Guiné 63/74 - P7785: Cancioneiro de Mansabá (1): Vamos todos cá ver / O quanto custa aqui viver / Nesta terra que é Mansabá... (Rogério Cardoso) publicado no Blogue Luís Graça

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

P27 - Álbum fotográfico de Ernesto Duarte, ex-Fur Mil da CCAÇ 1421/BCAÇ 1857 (Mansabá, 1965/67)

Com a devida vénia ao nosso camarada Ernesto Duarte que foi Fur Mil na CCAÇ 1421, que esteve em Mansabá nos idos anos de 1965/67, publicamos diversos panfletos de ação psicológica e umas fotos de Mansabá, que ele nos enviou e autorizou a publicar no nosso Blogue, documentos representativos daquela época.


Vista aérea da povoação e aquartelamento de Mansabá

Vista aérea do aquartelamento de Mansabá

Ernesto Duarte, na então picada de acesso à porta de armas

Em 1970 já este acesso ao aquartelamento estava alcatroado

Ernesto Duarte no quartel da Mansabá