Viatura Unimog da CART 2732, destruída pelo fogo IN na emboscada de 06DEZ71 na zona de Mamboncó, na Estrada Mansoa/Mansabá
Na guerra da Guiné... sem tiros!
O cidadão português Otelo Saraiva de Carvalho, 82 anos de idade,
coronel do exército reformado, assume-se como o estratega do 25 de
abril de 1974 que derrubou o regime da ditadura. Assume-se e é
reconhecido como tal pelos seus camaradas. De Otelo, natural de
Moçambique, já muito se disse mas, sempre que fala da guerra e da
revolução dos cravos, algo de novo é revelado com inusitada surpresa.
Decorridos 45 anos da revolução, Otelo é convidado pelo “Governo
Sombra” da TVI e pela revista “Nova Gente” para recordar os tempos
históricos então vividos na guerra e da estratégia que engendrou para
derrubar a ditadura. Das comissões que fez na Guiné e em Angola
declara que nunca disparou um tiro: ““nunca disparei a minha arma
durante a guerra”; “sofri emboscadas, com tiros a passar-me por cima…
nunca me deitei ao chão para disparar, levava muitas vezes a arma
descarregada”…
Com tais afirmações, apanhou-nos de surpresa, a nós e a
milhares de militares que combateram na guerra em África.
Como? Onde? O quê? Sofrer emboscadas e ficar de pé? Não ripostar
quando o inimigo (turras) disparava a matar? Com a arma (G3) sem
balas? Das duas, uma: ou nunca caiu numa emboscada a valer, daquelas
que causam mortes, feridos e carros militares a arder, ou teve a sorte
de refugiar-se no capim, atrás de um formigueiro, enquanto os seus
camaradas enfrentavam o inimigo, ou nos bombardeamentos ao vulnerável
quartel era rápido a refugiar-se num abrigo.
Se Otelo Saraiva de Carvalho participou na guerra na Guiné, mobilizado
por imposição, tal como nós e de milhares de jovens, com a postura que
agora revelou nas entrevistas aos mass media atrás referidos, teve a
sorte que mais ninguém teve. Otelo não foi um combatente, não tem
direito a ser considerado “antigo combatente”, sem nada de regozijo,
porque, como diz, não combateu.
Da estratégia do 25 de abril, já entramos noutra guerra. O “inimigo”
era um regime a cair de podre. Ouve coragem e mérito de todos os
intervenientes. Já estamos ao lado de Otelo quando esperava por outro
andamento da democracia que veio a ser aprisionada por ideologias e
falsas promessas. Tem razão quando recorda o ataque soez de “Manuel
Monteiro e Paulo Portas (CDS/PP)… “chamaram-me assassino”. É bom de
ver, os dois políticos e muitos outros não teriam lugar na política
sem o 25 de abril.
São alegorias de um militar que também esteve na Guiné. Sem balas e
sem tiros.
Como em tudo na vida, há vilões e heróis.
João Godim
__________
Sem comentários:
Enviar um comentário