terça-feira, 20 de abril de 2010

P19 - 40.º Aniversário da ida da CART 2732 para a Guiné (6): O Encontro aconteceu. Viveram-se horas de alegria e de convívio

Fotos (da autoria de Inácio Silva)

Conforme foi anunciado, alguns ex-camaradas naturais e/ou residentes no Continente, encontraram-se com um grupo alargado de ex-camaradas da nossa Companhia, residentes na Madeira, com o intuito de comemorarmos o 40.º aniversário da nossa partida para a Guiné.
A deslocação para o Funchal foi feita aleatoriamente, optando, cada um, pela data mais conveniente. O mesmo aconteceu em relação ao regresso. Os camaradas organizadores, que fizeram um excelente trabalho, programaram, com todo o pormenor, as diversas etapas do nosso encontro. Inclusivé, não subestimaram a recepção no aeroporto e o inestimável serviço de transporte do aeroporto para o Funchal, deixando-nos à porta do hotel. O transporte do Funchal ao aeroporto, mesmo em dias diferenciados, foi também assegurado aos continentais pelos camaradas naturais da Madeira. Registamos com muito agrado e simpatia esta louvável iniciativa que, aliás, foi distribuída, um pouco, por cada um dos membros da organização.

Este evento permitiu, como seria expectável, juntar alguns familiares mais próximos dos ex-combatentes, designadamente, com a inclusão do elemento feminino, atribuindo um colorido mais íntimo e harmonioso.
No dia 10 de Abril, logo pelas 10H00, fomos esperar um autocarro que nos levaria até junto do grupo dos ex-camaradas madeirenses, cujas caras - a maior parte delas - não eram vistas, há quarenta anos.

Passado o primeiro impacto, com a dispensa de um relativo esforço de reactivação da memória visual e auditiva, foi possível estabelecer, nuns casos, mais rapidamente do que noutros, a ligação com o passado, já longínquo, e de relembrarmos certos episódios, vividos no colectivo, que, jamais, serão esquecidos.

Já dentro do autocarro, a curiosidade mútua era evidente e a pergunta, "quem é aquele?", surgia amiúde.

Houve algumas situações, algo caricatas, de alguns camaradas dizerem cara-a-cara:

- "desculpa-me, mas eu não me lembro de ti...", dizendo, logo, o outro:

- "então, não te lembras... disto e... daquilo?

- Sim disso, eu lembro-me bem mas da tua cara, não...!

Mas, a pouco e pouco, a sã camaradagem sobrepôs-se as todas as dúvidas e as conversas foram sendo feitas com a maior cordialidade...

O autocarro dirigiu-se, então, para as antigas instalações do BAG-2 (Bateria de Artilharia de Guarnição), transformado em GAG-2 (Grupo de Artilharia de Guarnição) para se tornar numa Unidade Mobilizadora, onde a nossa Companhia recebeu instrução militar e de onde partiu, rumo à Guiné*.

O GAG-2 foi entretanto transformado em Unidade de Apoio ao Comando da Zona Militar da Madeira.

Fomos recebidos pelo Oficial de Dia, senhor Capitão Urbano Correia em representação do Comandante que não pôde estar presente devido a ter que participar numa cerimónia que estava a decorrer no Funchal, alusiva ao Dia do Combatente.

O Oficial de Dia deu-nos as boas-vindas, num tom muito cordial e proporcionou-nos uma visita àquelas que foram as nossas instalações, algumas delas inexistentes e outras submetidas ao longo do tempo a obras de beneficiação.

Nesta parada se fez muita Ordem Unida, Ginástica e Aplicação Militar. Aqui recebemos o nosso Guião que nos acompanhou na Guiné e que agora parece estar desaparecido.

À esquerda a antiga caserna dos Recrutas.

Fomos conduzidos ao monte mais alto da guarnição, onde se encontram instaladas algumas peças de artilharia pesada, local que nos proporcionou uma excelente vista sobre o Funchal e onde nos detivemos, algum tempo, em amena cavaqueira.

Ex-combatentes e respectivos familiares a caminho do monte onde se encontram as peças de artilharia anti-aérea.

Uma das anti-aéreas apontando simbolicamente o céu, hoje verdadeiras peças de museu.

Descemos para a zona da parada, sendo, já, acompanhados pelo Comandante da Unidade, senhor Tenente Coronel Rui Manuel Sequeira de Seiça que nos deu as boas vindas, de uma forma muito efusiva, manifestando o seu apreço pela nossa presença, salientando o facto de ser pouco comum, os ex-combatentes regressarem às unidades que não lhes foram muito "simpáticas". Não deixou, também, de salientar a presença do elemento feminino, chamando a atenção para a importância da mulher na participação, com o homem, nas questões relacionadas com os militares.

Um tema que nos mereceu algum reparo foi o facto do GAG-2, em tempos, ter erigido um pequeno monumento em memória dos que dali partiram para a Guerra do Ultramar e dos que, ao serviço da Pátria morreram, que por questões relacionadas com a construção da Via Rápida, que liga o Funchal à Ribeira Brava, foi destruído, não tendo sido, depois, reerguido.

Memorial fotografado por Carlos Vinhal em 1985, que entretanto foi destruído.

Um dos elementos da CART 2732 pediu a palavra para reiterar, na presença de todos, aquilo que alguns já tinham feito chegar ao Comandante, em conversa privada... Agradecendo a forma cordial e amiga como fomos recebidos, revelou uma certa mágoa pelo facto daquela Unidade não ter uma referência aos ex-militares que, dela, partiram para o Ultramar, deixando um repto para que o seu Comandante diligenciasse no sentido de não deixar caír no esquecimento um episódio marcante vivido, conjuntamente, pelo GAG-2 e pelos ex-combatentes, ali presentes.

O Ten Cor Rui Seiça, Comandante da Unidade usou, de seguida, da palavra, para informar, solenemente, que assumia o compromisso e se iria empenhar no sentido de voltar a reerguer o referido monumento, deixando, todos, muito satisfeitos. Fazemos votos para que esse desiderato seja alcançado para que, numa próxima visita à Madeira e à nossa Unidade, possamos prestar a nossa profunda homenagem aos que já não voltaram connosco.

Parte da formatura, vendo-se à esquerda, de camuflado, o senhor Cap Urbano Correia e, com a farda n.º 1, o senhor Ten Cor Rui Seiça.

O Comandante da Unidade dirige palavras sentidas de reconhecimento às esposas presentes.

Saímos do quartel já perto das 13H00, sendo conduzidos ao local onde a Madeira construíu uma escultura e um pequeno edifício, dentro do qual estão gravados, em metal, os nomes dos madeirenses falecidos em campanha na guerra do ultramar.

Placa que assinala o local do Memorial.

Figura escultórica que encima o edifício, quanto a nós envergonhado, onde estão inscritos os nomes dos militares madeirenses tombados em campanha nos três Teatros de Operações. Por que estão estes nomes escondidos nesta espécie de meia-cave?

Como o estômago já reclamava, fomos, de imediato, para o restaurante que nos iria acolher para o almoço.

Este, decorreu tranquilamente, em formato self-service, podendo, cada um usufruir da variedade de produtos que foram colocados à nossa disposição, sendo, na generalidade, do nosso agrado.

Por fim, o camarada Pedro Reis, à sua maneira, surpreendeu-nos com a distribuição individual duma placa alusiva ao encontro.

Para rematar o final do encontro, foi fatiado o bolo alusivo à efeméride, decorado com os símbolos do nosso blogue, o que muito nos lisonjeou.

Depois, foi o dispersar, indo cada um para onde lhe apeteceu... não esquecendo, contudo, os bons momentos passados e que serão recordados com saudade.

Ficou a promessa de que se iria comemorar o 40.º aniversário do regresso, de novo no Funchal em 2012.

(*) Vd. Página do Exército em http://www.exercito.pt/sites/CmdZMM/Actividades/Paginas/6044.aspx

1 comentário:

  1. Daqui envio a todos os componentes desta CArt, os meus sinceros desejos de muita saúde e que a vida vos proporcione, a quantos ainda me acompanhem nesta Terra, tudo de bom, como para mim desejo.

    Aquela peça de AA altaneira, erguida como em preçe para o azul do céu, que não sei se terá ultrapassado o ângulo máximo de tiro, é uma das minhas conhecidas do meu serviço militar normal, 1959 a Dezembro de 60. Era uma 9,4 cm se a memória não me atraiçoa e servia para fazer o chamado fogo de barragem anti-aéreo.

    No meu serviço militar anormal, como sabem tive de ser Caçador e tiveram de me "gramar" durante quase 3 meses. Mas julgo que não vos "chateei" muito.

    Abraços para todos do
    Jorge Picado
    ex-Cap Mil na Guiné 1970-72

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