Fotos (da autoria de Inácio Silva)
Conforme foi anunciado, alguns ex-camaradas naturais e/ou residentes no Continente, encontraram-se com um grupo alargado de ex-camaradas da nossa Companhia, residentes na Madeira, com o intuito de comemorarmos o 40.º aniversário da nossa partida para a Guiné.
A deslocação para o Funchal foi feita aleatoriamente, optando, cada um, pela data mais conveniente. O mesmo aconteceu em relação ao regresso. Os camaradas organizadores, que fizeram um excelente trabalho, programaram, com todo o pormenor, as diversas etapas do nosso encontro. Inclusivé, não subestimaram a recepção no aeroporto e o inestimável serviço de transporte do aeroporto para o Funchal, deixando-nos à porta do hotel. O transporte do Funchal ao aeroporto, mesmo em dias diferenciados, foi também assegurado aos continentais pelos camaradas naturais da Madeira. Registamos com muito agrado e simpatia esta louvável iniciativa que, aliás, foi distribuída, um pouco, por cada um dos membros da organização.
Este evento permitiu, como seria expectável, juntar alguns familiares mais próximos dos ex-combatentes, designadamente, com a inclusão do elemento feminino, atribuindo um colorido mais íntimo e harmonioso.
No dia 10 de Abril, logo pelas 10H00, fomos esperar um autocarro que nos levaria até junto do grupo dos ex-camaradas madeirenses, cujas caras - a maior parte delas - não eram vistas, há quarenta anos.
Passado o primeiro impacto, com a dispensa de um relativo esforço de reactivação da memória visual e auditiva, foi possível estabelecer, nuns casos, mais rapidamente do que noutros, a ligação com o passado, já longínquo, e de relembrarmos certos episódios, vividos no colectivo, que, jamais, serão esquecidos.
Já dentro do autocarro, a curiosidade mútua era evidente e a pergunta, "quem é aquele?", surgia amiúde.
Houve algumas situações, algo caricatas, de alguns camaradas dizerem cara-a-cara:
- "desculpa-me, mas eu não me lembro de ti...", dizendo, logo, o outro:
- "então, não te lembras... disto e... daquilo?
- Sim disso, eu lembro-me bem mas da tua cara, não...!
Mas, a pouco e pouco, a sã camaradagem sobrepôs-se as todas as dúvidas e as conversas foram sendo feitas com a maior cordialidade...
O autocarro dirigiu-se, então, para as antigas instalações do BAG-2 (Bateria de Artilharia de Guarnição), transformado em GAG-2 (Grupo de Artilharia de Guarnição) para se tornar numa Unidade Mobilizadora, onde a nossa Companhia recebeu instrução militar e de onde partiu, rumo à Guiné*.
Fomos recebidos pelo Oficial de Dia, senhor Capitão Urbano Correia em representação do Comandante que não pôde estar presente devido a ter que participar numa cerimónia que estava a decorrer no Funchal, alusiva ao Dia do Combatente.
O Oficial de Dia deu-nos as boas-vindas, num tom muito cordial e proporcionou-nos uma visita àquelas que foram as nossas instalações, algumas delas inexistentes e outras submetidas ao longo do tempo a obras de beneficiação.
Nesta parada se fez muita Ordem Unida, Ginástica e Aplicação Militar. Aqui recebemos o nosso Guião que nos acompanhou na Guiné e que agora parece estar desaparecido.
Fomos conduzidos ao monte mais alto da guarnição, onde se encontram instaladas algumas peças de artilharia pesada, local que nos proporcionou uma excelente vista sobre o Funchal e onde nos detivemos, algum tempo, em amena cavaqueira.
Ex-combatentes e respectivos familiares a caminho do monte onde se encontram as peças de artilharia anti-aérea.
Descemos para a zona da parada, sendo, já, acompanhados pelo Comandante da Unidade, senhor Tenente Coronel Rui Manuel Sequeira de Seiça que nos deu as boas vindas, de uma forma muito efusiva, manifestando o seu apreço pela nossa presença, salientando o facto de ser pouco comum, os ex-combatentes regressarem às unidades que não lhes foram muito "simpáticas". Não deixou, também, de salientar a presença do elemento feminino, chamando a atenção para a importância da mulher na participação, com o homem, nas questões relacionadas com os militares.
Um tema que nos mereceu algum reparo foi o facto do GAG-2, em tempos, ter erigido um pequeno monumento em memória dos que dali partiram para a Guerra do Ultramar e dos que, ao serviço da Pátria morreram, que por questões relacionadas com a construção da Via Rápida, que liga o Funchal à Ribeira Brava, foi destruído, não tendo sido, depois, reerguido.
Um dos elementos da CART 2732 pediu a palavra para reiterar, na presença de todos, aquilo que alguns já tinham feito chegar ao Comandante, em conversa privada... Agradecendo a forma cordial e amiga como fomos recebidos, revelou uma certa mágoa pelo facto daquela Unidade não ter uma referência aos ex-militares que, dela, partiram para o Ultramar, deixando um repto para que o seu Comandante diligenciasse no sentido de não deixar caír no esquecimento um episódio marcante vivido, conjuntamente, pelo GAG-2 e pelos ex-combatentes, ali presentes.
O Ten Cor Rui Seiça, Comandante da Unidade usou, de seguida, da palavra, para informar, solenemente, que assumia o compromisso e se iria empenhar no sentido de voltar a reerguer o referido monumento, deixando, todos, muito satisfeitos. Fazemos votos para que esse desiderato seja alcançado para que, numa próxima visita à Madeira e à nossa Unidade, possamos prestar a nossa profunda homenagem aos que já não voltaram connosco.
Parte da formatura, vendo-se à esquerda, de camuflado, o senhor Cap Urbano Correia e, com a farda n.º 1, o senhor Ten Cor Rui Seiça.
Saímos do quartel já perto das 13H00, sendo conduzidos ao local onde a Madeira construíu uma escultura e um pequeno edifício, dentro do qual estão gravados, em metal, os nomes dos madeirenses falecidos em campanha na guerra do ultramar.
Figura escultórica que encima o edifício, quanto a nós envergonhado, onde estão inscritos os nomes dos militares madeirenses tombados em campanha nos três Teatros de Operações. Por que estão estes nomes escondidos nesta espécie de meia-cave?
Como o estômago já reclamava, fomos, de imediato, para o restaurante que nos iria acolher para o almoço.
Este, decorreu tranquilamente, em formato self-service, podendo, cada um usufruir da variedade de produtos que foram colocados à nossa disposição, sendo, na generalidade, do nosso agrado.
Por fim, o camarada Pedro Reis, à sua maneira, surpreendeu-nos com a distribuição individual duma placa alusiva ao encontro.
Para rematar o final do encontro, foi fatiado o bolo alusivo à efeméride, decorado com os símbolos do nosso blogue, o que muito nos lisonjeou.
Depois, foi o dispersar, indo cada um para onde lhe apeteceu... não esquecendo, contudo, os bons momentos passados e que serão recordados com saudade.
Ficou a promessa de que se iria comemorar o 40.º aniversário do regresso, de novo no Funchal em 2012.
(*) Vd. Página do Exército em http://www.exercito.pt/sites/CmdZMM/Actividades/Paginas/6044.aspx
Daqui envio a todos os componentes desta CArt, os meus sinceros desejos de muita saúde e que a vida vos proporcione, a quantos ainda me acompanhem nesta Terra, tudo de bom, como para mim desejo.
ResponderEliminarAquela peça de AA altaneira, erguida como em preçe para o azul do céu, que não sei se terá ultrapassado o ângulo máximo de tiro, é uma das minhas conhecidas do meu serviço militar normal, 1959 a Dezembro de 60. Era uma 9,4 cm se a memória não me atraiçoa e servia para fazer o chamado fogo de barragem anti-aéreo.
No meu serviço militar anormal, como sabem tive de ser Caçador e tiveram de me "gramar" durante quase 3 meses. Mas julgo que não vos "chateei" muito.
Abraços para todos do
Jorge Picado
ex-Cap Mil na Guiné 1970-72